Todo mundo tem que discutir, sustentar uma tese, realizar uma defesa ou uma acusação e todos precisam persuadir os outros.
Já o fazemos com ou sem método, pela força da prática ou do hábito. Mas não seria bom fazer isso de uma forma correta?
A retórica é o uso da linguagem para se comunicar de forma eficaz e persuasiva. Sendo que a persuasão consiste em utilizar recursos racionais, emocionais e simbólicos pra induzir alguém a aceitar uma ideia ou realizar uma ação. Então resumindo, o objetivo da retórica é causar uma reação, ativa ou passiva. Retórica, hoje em dia, muito se confunde com publicidade, pois ambas visam desencadear uma ação por parte do ouvinte que, no caso publicitário, é a compra de determinado produto. Mas o objetivo principal não é esse, mas sim obter uma resposta da pessoa com quem se comunica. A ideia mais importante é a de uma comunicação efetiva. O estudo metódico da retórica diz respeito aos modos de persuasão. A persuasão é um tipo de demonstração (uma vez que nos sentimos o mais plenamente persuadidos quando julgamos que uma coisa foi demonstrada); a demonstração do orador é um raciocínio, sendo este, em geral, o mais eficaz dos meios de persuasão. Então, Aristóteles conclui que aquele que está melhor capacitado para perceber COMO e A PARTIR DE QUE ELEMENTOS um raciocínio é produzido terá melhor habilidade para manejá-lo. Em um discurso o ouvinte está decidindo sobre seus próprios interesses, não sendo necessário que o orador demonstre coisa alguma, exceto que os fatos são o que o proponente de alguma medida afirma que são. O orador deve argumentar a favor da verdade. Os seres humanos são, por natureza, inclinados à verdade. Nós temos um faro natural para, na maioria das vezes, distiguir o que é verdade do que é besteira. Então o orador habilidoso é o que concede à plateia a possibilidade de reconhecer a verdade.
Por isso a importância da integridade no discurso.
O orador deve ter claro o raciocínio e ter confiança de que o caminho que ele trilha chegará à verdade. A persuasão não é feita para enganar uma pessoa, não é feita para levá-la a cometer um ato que não deseja, mas sim para que ela reconheça a verdade. A verdade e a justiça têm mais valor do que a mentira e a injustiça.
A retórica nasceu no século V antes de cristo, juntamente com as cidades estados gregas. Ela se desenvolveu em círculos políticos e jurídicos e foi estudada nas escolas filosóficas.
Aristóteles, com este livro RETÓRICA, colocou a arte do bem falar como um dos elementos chaves da Filosofia, juntamente com a lógica e a dialética. O que faz sentido, porque a lógica, ou _logos_, utiliza o raciocínio para persuadir a sua audiência e a dialética é o “caminhar entre as ideias” para saber o que é válido ou não.
A obra Retórica foi escrita entre 335 - 323 A.c. durante a permanência de Aristóteles no Liceu, sua escola de filosofia em Atenas. O interessante é que Aristóteles possuía dois tipos de ensino nessa escola, o Esotérico, com S ou acroamático, temas de maior complexidade e profundidade filosófica, dados a um grupo fechado de estudantes mais graduados e o ensino Exotérico, com X, um conhecimento passível de ser administrado a um grande público, a um publico externo, como a dialética e a retórica.
Retórica é a parte escrita de um discurso e a oratória é a fala, mas na verdade não há distinção, ambas são a mesma coisa. Retórica é um palavra de origem grega e Oratória é a sua tradução latina. Aristóteles coloca a retórica, não em um domínio de uma ciência determinada, mas no horizonte de todos os indivíduos, na arte. Porque todo mundo tem que discutir, sustentar uma tese, realizar uma defesa ou uma acusação, todos precisam persuadir os outros. E já o fazemos com ou sem método, pela força da prática ou do hábitos. Mas não seria bom fazer isso de uma forma correta? O que Aristóteles sugere é que é possível abordar o assunto sistematicamente, e indagar a razão por que alguns falantes obtêm êxito e outros não.
O livro é dividido em três partes. A primeira parte mostra que existem três tipos de retórica: a jurídica, que tenta convencer a respeito do passado, a demonstrativa, que convence sobre fatos do presente e a política ou deliberativa, que argumenta à favor de ações futuras. E Aristóteles nos apresenta ao entimema. Entimema é uma palavra estranha, eu sei, mas para ler o livro você vai ter que se acostumar a ela, pois ele a usa muito. Entimema é uma reflexão, um raciocínio provável, sem o rigor lógico necessário. Por exemplo, eu estou com febre, logo estou doente. É um entimema, porque não quer dizer que todo mundo que tem febre está doente. Então entimema é um raciocínio que a pessoa que está ouvindo completa a linha de pensamento, e é um raciocínio mais fraco do que um raciocínio lógico.
Bom, a retórica jurídica tem esse nome porque é a usada, principalmente, em tribunais. Ele diz que representa fatos passados, pois você está perante um júri argumentando sobre ações já executadas pelo réu, ações que ele tomou ou deixou de tomar. A retórica demonstrativa é usada para louvar ou criticar alguém, e para isso você usa fatos do presente, quem a pessoa é e o que ela faz. E por fim, a deliberativa, que você usa argumentos para fazer com que a pessoa tome alguma ação no futuro. Por isso associam retórica com publicidade, pois você usa argumentos, inclusive argumentos visuais e sonoros, para convencer alguém a tomar uma ação no futuro.
A segunda parte do livro também é muito interessante. Ela traz várias categorias para basearmos os elementos emocionais do discurso. Ira, amizade, confiança, vergonha… tendo em vista que todos os argumentos devem estar alinhados com a única e mais importante busca do ser humano, a felicidade. Nessa parte ele mostra como se falar para os jovens, para os velhos e para os maduros… por exemplo… impressionante como pouca coisa mudou… como falar para uma plateia que está com determinado sentimento e como gerar ou modificar esses humores. Contudo, Aristóteles critica os oradores que ensinam como colocar uma pessoa em um determinado estado de espírito, pois ele diz que a habilidade do orador vai muito além, refere-se a adquirir habilidade no manejo dos entimemas, dos raciocínios.
Na última parte, a parte III, Aristóteles mostra como é a estrutura de um discurso. Essa estrutura geral, que ele mostra como funciona na parte 3, se completa com o como falar para determinados ouvintes, que ele mostra na parte 2 que se completa com os métodos de persuasão, como as máximas, o contrário, o exemplo e vários outros, que ele mostra na parte 1 do livro.
Inclusive o livro é cheio de métodos de persuasão. Uma pérola! Disponível há mais de 2.000 anos! Infelizmente não dá pra falar todos os métodos aqui… O que dá pra fazer neste curto vídeo é mostrar a estrutura básica de um discurso. Vamos lá.
Uma fala possui três pontos principais: o orador, o discurso e a audiência. O Propósito do orador é a sua utilidade. O propósito do assunto é demonstrar a verdade e a audiência determina a finalidade e o objeto do discurso.
Devemos começar pela audiência, para definirmos quem vai ouvir. É o que hoje chamamos de persona ou avatar. Uma vez feito isso, temos que estruturar o discurso com seus pontos principais, os argumentos de cada ponto, as objeções que podem ser levantadas, como remover essas objeções e o gancho. Depois vamos para a matriz do discurso que, para Aristóteles é dividido em duas partes: Exposição e Argumentação. Dentro da exposição há o exórdio. Exórdio é o mesmo que prólogo. Prólogo é usado para livros e exórdio para discursos. O exórdio é o começo da exposição, depois vem a exposição em si com o levantamento do problema, a promessa e a solução, como se fosse um resumo e só aí devemos entrar na argumentação, já usando dos pontos principais que levantamos antes e… os entimemas… junto com os métodos de persuasão que devem ser pensados e inseridos à cada caso. Ainda dentro da argumentação temos o epílogo, com uma chamada à ação… exatamente… Aristóteles já estava ligado em CTA - Call to action - desde 300 antes de Cristo, por fim amplificamos, estimulamos paixões e recapitulamos. Pronto. Só isso.
Coisa pra caramba, né? É… mas quando fica estruturado, funciona que é uma beleza. Só para dar um exemplo, dentro do exórdio você pode usar quatro ferramentas: enigma, louvor, censura ou conselho. Mas como saber? Lendo o livro… ou tirando um print dos meus post-it’s
Pessoal… seguinte… Retórica, livro FUNDAMENTAL, ok? A Retórica é a base para qualquer discurso, para qualquer texto. É isso, obrigado por assistir. Inscreva-se no canal porque quando vierem os conteúdos PORRADA você já fica sabendo logo.
Um abraço, boa sorte e até a próxima. Valeu
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