São poucos os livros que eu não encontro palavras para descrever. Poucos livros eu realmente vejo como uma obra prima e Matadouro 5 é um desses livros.
Querido bibliófilos e queridas bibliófilas, bem-vindos ao canal Ler é Verbo, nosso canal de livros e escrita. Hoje quero te apresentar uma jóia, uma pérola, um tesouro em forma de livro: Matadouro 5 de Kurt Vonnegut.
Vamos abrir a mente. Por que abrir a mente? Porque quando eu contar a pouco da história, sem spoilers, ela vai parecer… um pouco esquisita. Mas aguenta. Não sai correndo. Eu vou explicar o porquê dessa história.
Então prepare-se. O livro MATADOURO 5 é um livro de ficção científica que nos conta a história de Billy Pilgrim. Esse rapaz leva uma vida normal em uma cidade do interior dos Estados Unidos como optometrista. Ele está na idade de ser convocado para a segunda guerra mundial e vai à guerra. Depois que ele volta da guerra ele é abduzido por alienígenas, onde é levado para um planeta distante e exposto em uma jaula, como se fosse um zoológico. E também Billy Pilgrim consegue viajar no tempo, entre o passado, o presente e o futuro da sua própria vida.
Eu disse que seria estranho, mas agora vamos explicar. O autor do livro, Kurt Vonnegut, serviu de fato como soldado na segunda guerra mundial. Ele, assim como seu personagem principal, estavam em um açougue, como prisioneiros de guerra, em Dresden, Alemenha, quando a cidade foi bombardeada. Os dois, autor e personagem, sobrevivem a esse ataque. Só um parênteses aqui, para quem não conhece sobre o ataque de Dresden, dê uma olhada na Wikipédia. Foi o maior bombardeio já realizado em um guerra. Destruíram completamente a cidade e foram achados mais de 120mil corpos… uma coisa terrivelmente pavorosa.
Bom, o autor, Kurt Vonnegut, ao voltar da guerra queria escrever sobre sua experiência. Mas não queria escrever como todo mundo, contando o ponto de vista de um soldado, pois vários colegas já estavam fazendo assim. Kurt queria escrever uma história ficcional com um personagem que também passasse pelos horrores da guerra. E além disso, ele juntou toda sua filosofia e toda sua imaginação nesta história. E como explicar as viagens no tempo? O personagem aprendeu com os alienígenas que o tempo é contínuo, que ele sempre existe em algum lugar, dessa forma, não se pode morrer, pois você sempre estará vivo em algum lugar do tempo. É uma forma também do personagem se reconfortar um pouco com a morte, pois a pessoa sempre vai estar viva no passado. E sempre que a relidade do presente ficava muito dura, na guerra, ou em um campo de concentração nazista, ou em um vagão apertado de trem, ele “foge” da realidade para algum ponto do passado. Genial.
E a abdução alienígena? Depois da guerra, já no asilo, seu personagem Billy lia muita ficção científica que, coincidentemente usava os mesmos conceitos de viagem no tempo de outros seres que capturam povos para seu zoológico e até mesmo o nome do planeta que ele é abduzido é igual. O futuro, ou a abdução por ETs é a criatividade, a esperança o desconhecido que também deve ser melhor que o presente e que consegue justificar o passado.
Mas por que o livro é genial? Porque Kurt escreve simples, porém com alma. É uma escrita autêntica em que personagem e autores se fundem e ele consegue mostrar os horrores da guerra e, quando tudo fica muito pesado, ele foge para o passado, contando a história do nosso personagem ou para o futuro, para justificar o próprio livro. Então você pode ler o livro em várias camadas, superficialmente é a história de um cara que viveu tudo isso, mas lá dentro, é uma filosofia de vida, uma forma otimista e feliz de ver o mundo apesar de todos os horrores vividos. É impossível você não virar fã do Kurt Vonnegut. Uma pena que o autor faleceu em abril de 2007… e assim vai… mas ao menos ele está vivo em algum lugar do passado.
E vamos terminar este vídeo com o epitáfio do personagem e do autor: “Tudo foi lindo e nada doeu”.
Muito obrigado pela audiência, um grande abraço, boa sorte e até a próxima valeu!
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