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O maior erro de quem quer escrever um livro.

Atualizado: 15 de nov. de 2020




O maior erro dos escritores ou aspirantes à escrita é não saberem o que é uma história. E você? Sabe o que é história?


Olá, pessoal, tudo bem? Bem-vindos ao canal LER É VERBO. Hoje vamos começar uma série muito legal, uma nova playlist aqui no canal: ESCREVER COM ALMA.


Bom, quem me acompanha aqui no canal sabe que não falamos apenas sobre livros, mas também sobre escrita. Escrever é minha paixão e ser escritor é minha meta. Mas para que você seja considerado, não só um escritor, mas um bom escritor você precisa… de quê? De uma história. E é isso que essa nova série vai buscar, a história.


E para começar a escrever quero partir de um ponto diferente. Já li dois livros sobre história, um deles é um livro clássico sobre o tema: A JORNADA DO ESCRITOR de Christopher Vogler e o outro é STORY de Robert McKee. São livros excelentes no que eles se propõe, mas eles não respondem à minha pergunta inicial: O que é uma história?


E eu descobri que não só esses livros, mas a maioria dos cursos que falam sobre escrita ou escrever um livro têm uma grande dificuldade em responder essa questão. Não sabem definir história. E o resultado disso tudo? Nós aprendemos que a forma de uma história, os eventos, a jornada, o que acontece, mas não sabemos o que é, de fato, uma história, e ao sentarmos para escrever, falhamos. E pior, nós pensamos que essa falha só prova uma coisa: que não temos talento.


Até que eu me deparei com um livro que finalmente respondeu esta pergunta! O livro STORY GENIUS inverteu a lógica. Ele não está preocupado com os fatos, mas com o conteúdo. E, sinceramente, o que carecemos no dia de hoje é mais conteúdo. Ele é um guia, um passo a passo, para criarmos um projeto que é a ALMA do nosso livro.


Mas como é isso? É mais um esquema de escrita criativa? É mais uma modinha que vem e passa? Não, é ciência. Sim, ciência da comunicação porque a história é a linguagem do cérebro. Nós pensamos em formato de história. O nosso cérebro evoluiu para usar a história como um guia, um decodificador da realidade, por isso nós somos experts e ávidos por uma boa história.


E uma boa história é facilmente reconhecida pelo nosso cérebro, uma boa história exerce um poder biológico sobre nós, não precisamos racionalizar sobre um boa história para sermos fisgados por ela. Contudo, criar uma uma boa história é bem diferente de saber naturalmente identificar uma boa história.


Por isso que chegamos a pergunta chave: O que é uma boa história? Temos que saber responder essa pergunta para podermos escrever uma história. O problema é que a maioria de nós, aspirantes a escritores, confundimos história com o que podemos ver na página: uma prosa fantástica, frases de efeito, a voz do personagem, a trama maravilhosa, a estrutura intrincada… é um erro muito comum e natural, mas nada disso é, de fato, história.


Da mesma forma que uma lâmpada não consegue emitir luz sem energia, apesar de todas suas partes estarem ali, uma história não vai conseguir engajar sem energia, sem vida, sem alma. E o que especificamente gera essa energia?


A energia de uma história vem diretamente de como o seu protagonista interpreta o que acontece com ele, como ele luta com a realidade, como avalia, como pesa o que importa e o que não importa. Não é uma interpretação aberta da realidade, mas sim como o seu protagonista faz sentido da própria vida, com seus desejos e seus medos que o impedem de atingir o objetivo.


História não é a trama ou os eventos que acontecem. História é sobre como as coisas que acontecem na trama afetam seu protagonista e como ele muda internamente como resultado disso.


Tudo o que não impacta a luta interna do protagonista, por mais bem escrito, mas artístico ou dramático que seja, vai tirar a energia da história e ela vai se tornar fria novamente. Vai tirar a magia da trama e catapultar o leitor de volta à realidade.


História é sobre a luta interna, não a externa. É sobre o que protagonista tem que aprender, superar, lidar internamente para resolver os problemas externos que a trama oferece.


Então, caso você não saiba exatamente o que o seu protagonista quer, quais são seus desejos, medos e, mais importante, porque ele quer isso, não existe trama, enredo, estrutura forte o suficiente para conectar o leitor à sua história.


ALMA primeiro, corpo em segundo. Por isso eu digo, vamos escrever com ALMA. Porque essa energia é fundamental para biologicamente fazer nossos leitores ficarem fisgados antes mesmo deles saberem o que aconteceu.


O que proponho então é irmos abaixo da superfície, abaixo da forma, para descobrirmos a real história que queremos contar.


Então vamos começar e entender cientificamente qual o efeito de uma história no cérebro humano. E vou começar com a frase da escritora Ursula Leguin: “Já existiram grande sociedade que não usaram a roda, mas não houve nenhuma sociedade que não contou histórias.”


História é algo que nosso cérebro anseia, busca, precisa. Isso porque nosso cérebro evoluiu com as histórias. Uma boa história foi o primeiro artefato de realidade virtual inventado pelo ser humano. Ela nos permite sair do presente e visualizar o futuro, para, dessa forma, conseguirmos nos planejar para aquele algo que sempre nos assustou ou, mais ainda, conseguirmos nos preparar para o desconhecido, o inesperado. Isso porque a história nos educa. É uma bússola, um compasso que nos ajuda a navegar na sociedade. Ao entendermos como e porque os outros fizeram o que fizeram, nós também podemos ter a oportunidade de usar esse conhecimento quando for preciso.


Por isso que biologicamente o cérebro é raptado por uma boa história, pois sua própria sobrevivência e prosperidade depende disso. E é a emoção, ao invés da lógica, que nos ensina significado, então é emoção que a nossa história precisa transmitir, diretamente do protagonista para o leitor.


E quando digo leitor, digo qualquer pessoa que vá consumir a história, seja livro, filme, desenho. É muito grande essa capacidade de nos colocarmos na pele do protagonista. Por exemplo, filmes de terror. Já percebeu que quando o filme está naquele momento tenso, todo mundo se protege? Se encolhe para proteger os órgãos vitais? Por que, se não estamos correndo nenhum risco de vida? Porque nosso cérebro foi fisgado pela história e está instruindo nosso corpo a fazer tudo o que faríamos se fossemos realmente atacados.


Nossa necessidade biológica de pertencer a um grupo social é tão forte como a necessidade do corpo para comida e água. Nós somos pessoas que precisam de pessoas para prosperar, nós precisamos entender os outros. E a história é um decifrador desse mistério. Através dela conseguimos nos colocar em outras vidas e ver o mundo através de outros olhos. O que essa outra pessoa pensa, no que ela acredita, porque ela acredita nisso? É isso que estamos curiosos para saber e isso é o que está respondido em cada romance bem escrito.


O propósito de um história, de qualquer história, é nos ajudar a interpretar, a antecipar nossas ações e as ações dos outros. Nós não nos deixamos levar por uma história para escapar da realidade, nos gostamos de história para conseguirmos navegar pela nossa realidade.


E acontece que nosso cérebro é muito menos exigente com a linguagem lírica, com a estrutura, do que imaginamos. Nós queremos algo muito mais interior e significativo, queremos saber como sobreviver neste glorioso, cruel e lindo mundo. Nós queremos ALMA.


Claro que queremos uma história bem escrita e bem estruturada, não me entenda mal. Uma boa história deve também entreter. Assim como uma comida não basta ser nutritiva, deve também ser gostosa. Mas o ponto é que não basta só entreter, deve, certamente nutrir.


Então resumindo, respondendo a pergunta inicial, o que é história?


História são as coisas que acontecem a alguém em busca de um objetivo difícil e a mudança interna desse alguém como resultado.


Vamos lá, “Coisas que acontecem”, é a trama, a superfície, mas não é história.


“A alguém” esse é o protagonista e tudo o que acontece na trama vai ter seu peso e significado emocional em como isso o afeta, não de forma geral, mas na busca por um “objetivo difícil”. Ou seja, um problema.


E a parte final, “a mudança interna”, é a história. Como um dilema externo muda o ponto de vista de um personagem.


Então história é sobre o que acontece internamente, não externamente. E não entender isso é o que faz muitos rascunhos darem errado. Não buscamos uma história simplesmente para ver eventos aleatórios acontecendo, nos buscamos experimentar tais eventos na pele do protagonista enquanto ele batalha para saber o que fazer a seguir. A batalha interna do protagonista é a energia, é a ALMA da história.


Um grande abraços, muito obrigado pela audiência, boa sorte e valeu!

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